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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Medieval (quase) sem monstros, parte I.

A maioria esmagadora dos jogadores começou a jogar rpg por D&D, baseado sempre no cenário de Forgotten Realms. Esse cenário apresenta o standard para rpgs medievais: as classes básicas jogáveis, a quantidade de magias, itens mágicos, monstros, cavernas, demônios, a roda dos planos, etc. O que as outras pessoas veem disso é: um bando de nerdz se imaginando ser guerreiros e magos, lutando contra monstros imaginários que, até pouco tempo atrás, ninguém nunca tinha visto. Com o upgrade na interface gráfica dos jogos, hoje a gente tem D&D Online, Dragon Age, Line Age, entre outros. Daí passamos a ver os montros contra os quais lutávamos no rpg. Só que esses jogos também nos trouxeram a realização de uma dura realidade: o sistema de encontros de D&D é ridículo.

Além de não agradar em nada os jogadores sociais, que são forçados a entrar em algum combate uma hora ou outra, nem os jogadores que preferem jogos passados num tempo contemporâneo - exatamente pela distância da realidade da fantasia medieval - se interessam muito em jogar D&D. É uma pena, porque o cenário medieval é riquíssimo e é muito mais difícil de jogar do que nos foi ensinado. Os exemplos do livro servem pra facilitar o entendimento de um mundo completamente novo, eles mostram como podemos explorar esse universo de uma maneira simples, que as pessoas possam entender. Mas eles são o básico. E a maioria dos jogadores de fantasia medieval que eu conheço jogam o básico pra sempre.

Pensa bem, você tá andando numa floresta, de repente você é atacado por um animal e luta com ele até a morte. Mais tarde outros bichos atacam seu acampamento, outra luta até a morte. Você vai até uma caverna, sabe-se lá porque, tá cheio de bichos esquisitos lá dentro. Sério mesmo, é o ambiente com a maior biodiversidade e mais populoso que eu já vi. Chega a ser chato. Quem já jogou Mu Online sabe do que eu to falando: matar bicho pra ganhar experiência, itens (não sei porque mais brotam itens do nada desses bichos que a gente mata), pra comprar mais equipamento pra matar bichos maiores, pra ganhar mais experiência, etc. Vira um círculo vicioso que NÃO SERVE PRA NADA. Sim, eu conheço mestres de D&D que a base dos jogos é isso. E a diversão dos personagens é ser mais forte que os outros pra matar mais monstros.

Só que de onde veio isso, meu deus? Se você pegar a literatura de referência, a presença de seres mágicos e monstros é mínima. Senhor dos Anéis, que é cheio de magia, não tem quase nada de monstros e magia. Os Orcs são claramente inimigos e só de olhar pra um orc do universo tolkeniano você quer matar ele. É exatamente pra criar essa repulsa, eles não podem ser vistos como monstros porque agem muito como seres humanos (exércitos, acampamentos, armas de cerco, etc) e eu já vi tribos de bárbaros humanos que são muito menos organizados e mais imudos que esses orcs.

Já é difícil pra caralho viver no mundo medieval. Imagina a vida de um camponês, é muito tensão o tempo todo. Aventureiros ganhavam um pouco mais de grana, mas é uma vida de merda, arriscando ser morto o tempo todo. Só que o receio em matar os personagens acaba transformando a vida de aventureiro numa coisa infinita e muito rentável. Os jogadores sempre acabam recebendo fortunas demais, ajudas demais, poções demais e críticos de menos (a não ser que você esteja jogando com o mestre Leandro, o detentor do recorde mundial de críticos em d20 contra os jogadores). A vida fica fácil demais, o jogo fica fácil demais e acaba virando matar monstro pra matar monstro.

Não precisa ser assim. Todo mundo que assiste/lê Game of Thrones sabe que não precisa ser assim. Uma série de Drama, baseada nas intrigas políticas, com pouco ou quase nada de pelego. Monstros? Um ou outro. Magia? Raríssima, e ainda assim ninguém acredita nela. Dragões? Dungeons? Ha ha, faz me rir. Tá, tem dragões sim, em extinção. Os personagens aventureiros não vão pro meio do nada procurar aventuras, as aventuras e recompensas estão onde estão as pessoas, ou seja, nas cidades. A maior parte das aventuras está lá, não no meio do nada.

Outra referência forte é a Trilogia de Tormenta, uma das melhores coisas que eu já li na minha vida. Aqui existem mais monstros, mais magias, só que nada é de graça. Não tem nenhuma solução de estalar de dedos, nenhuma magia imbatível, no final das contas tudo se resume a matar ou morrer, cheio de sangue e sofrimento. Recomendo recomendadíssimo.

Por incrível que pareça as histórias de Magic: The Gathering também não tem muitos monstros. São personagens x personagens, como em GoT. A magia está presente apenas em momentos cruciais das histórias, os monstros são só mais uma coisa no cenário, enquanto que o que realmente importa é como os personagens lendários interagem entre si. Rebeliões contra o governo, traição e tudo que seres humanos são capazes de fazer uns com os outros. É cruel porque é realista.

Enfim, esse é um post pra abrir um pouco a mente de gente que acha que medieval é só matar monstros. Na parte 2 (amanhã) analisarei um dos livros de Magic, o Máscaras de Mercádia. É pouco conhecido e sua qualidade é sempre questionada, porque é muito difícil de achar pra comprar e livros baseado em jogos é sempre duvidoso. E trarei imagens também hauauhuha. Não deu pra adicionar imagens agora porque to postando do celular.

Dever de casa: JOGUEM TORMENTA, MAGIC E VEJAM/LEIAM GOT.

2 comentários:

  1. Agora que você falou, realmente GoT é uma história medieval, muito empolgante e tensa, que não possui monstros e magia como peças chaves.
    É uma ótima dica!

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